15 de nov. de 2007

(Álbuns e filmagens estão no final do relato)
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FALE COMIGO: flaviomcas@gmail.com
OUTRAS VIAGENS: http://www.flaviomotoviagens.blogspot.com/
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RESUMO DA VIAGEM:

  • Trajeto: de Brasília ao Deserto do Atacama, atravessando a Argentina e o Chile até o oceano Pacífico (Antofagasta)
  • Período: de 10 a 29 de outubro de 2007 (primavera)
  • Total de dias: 20 dias
  • Quilometragem rodada: 8506 km - 3800 km na Argentina, 1130 km no Chile e 3576 km em território brasileiro.
  • Motos Utilizadas: 2 Yamahas XT660, ano 2006
  • Participantes: Paulo Amaral, Flávio Faria e sua esposa Rosane (na garupa a partir de Foz do Iguaçu)
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Planilha de abastecimento, preços de combutível e médias:
https://docs.google.com/file/d/0BwjIZUgIJs_ENmhDaEFyRnlSTkk/edit?usp=sharing
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Planilha de pernoites e distâncias:

(linha em vermelho: trajeto de ida e de volta)

RELATADO POR FLÁVIO FARIA
DIA 10 de outubro de 2007 - quarta-feira -
DE BRASILIA A RIBEIRAO PRETO (732 km rodados) - Eu, Flávio Faria, e meu amigo Paulo Amaral, pilotando duas motos Yamaha XT 660, com tanque de termoplástico adaptado de 22,5 litros, saímos de Brasília por volta das 9 h da manhã. Minha esposa Rosane vai de avião até Foz do Iguaçu (PR) no dia 12/10 (sexta-feira, feriado do Dia das Crianças) e lá assumirá a garupa da minha moto. Nossa intenção é adentrar o território argentino no dia seguinte (13/10).
Eu e Paulo marcamos para nos encontrar no posto da polícia rodoviária, na saída de Brasília, às 9 h. Cheguei primeiro ao local e fiquei esperando o amigo. Um policial rodoviário, ao ver minha moto repleta de bagagens, veio conversar. Era o inspetor Roberto (Betão), presidente do motoclube Cobras do Asfalto, que já havia feito o mesmo percurso pretendido por nós há alguns anos. Quando disse que levaria minha esposa na garupa, ele admirou nossa coragem e alertou que não ia ser mole encarar os Andes com a moto pesada. Era raro ver alguém viajando com garupa por aquelas bandas. Valeu a orientação, mas convém lembrar que na época em que o Roberto viajou a rodovia ainda não era integralmente pavimentada. Depois do asfaltamento as coisas ficaram mais fáceis. No mais, nem pensar em encarar uma aventura como essa sem compartilhar o cenário com minha companheira.
Paulo chegou cerca de 5 minutos depois de mim. Tiramos uma foto para recordações futuras, despedimos do Roberto e iniciamos a viagem. Quando chegávamos nas proximidades de Valparaíso de Goiás, passa por nós um motociclista numa Honda Falcon azul-quase-roxa fazendo sinais para que parássemos. Era o Paulinho Vasconcelos que veio nos desejar boa viagem. Ele havia confundido o local de partida e ficou nos esperando no posto fiscal, enquanto que nossa combinação era no posto policial. Paramos, tiramos outras fotos e, finalmente, iniciamos a viagem. Acho que já passava das 10 h quando partimos para valer. Meio tarde para quem pensava rodar 1000 km naquele dia.
Não vou me ater muito à parte nacional da viagem porque temos muita coisa legal pela frente. Convém lembrar que dormimos em Ribeirão Preto, com 732 km rodados. Qualquer um sabe que numa viagem como esta é muito importante manter o corpo hidratado. É uma questão de saúde! Cientes disso, logo que pisamos em Ribeirão fomos conhecer o tal de Pinguim, uma choperia que ganhou fama nacional por ter sido uma das primeiras a servir chope a zero grau. Preocupados com a tal hidratação, eu e Paulo Amaral derrubamos logo uma dúzia de tulipas naquela noite. Depois disso, encaramos um hotelzinho vagabundo (Saint Remy, uma espelunca de primeira linha), onde deparamos até com barata nos lençóis. Depois de tanto chope, nem barata nos incomodou. (Fotos com o inspetor Roberto e Paulinho Vasconcelos na saída de Brasília)

(BASTA CLICAR NA FOTO PARA AMPLIAR)

Dia 11 de outubro de 2007, quinta-feira
DE RIBEIRÃO A FOZ DO IGUAÇU (1048 km rodados no dia) - Acordamos cedo e pegamos a estrada às 5h20min da matina. Cumprimos 1048 km até Foz do Iguaçu na base do "será que a gente chega??". Minha moto deu pane na caixa de fusível por conta de um curto-circuito no plug de entrada no meu GPS (um acendedor de cigarro automotivo adaptado). Apagou por completo! Nem painel, nem farol, nem motor de partida. Tudo paradão! Perdemos 3 h para consertar. Inicialmente, fui atendido em Palmital por um garoto eletricista de 15 anos que não entendia nada de moto, mas deu um jeito de ela rodar até as imediações de Maringá, onde tivemos atendimento de primeira na oficina do Júnior. Pau na máquina depois disso! Trafegamos quase o tempo todo por rodovias terceirizadas. No Paraná, moto paga pedágio (foram 9) e, mesmo assim, pegamos engarrafamento de caminhões por todo o estado. Foi duro manter uma média decente, mas conseguimos chegar ao hotel Panorama, em Foz do Iguaçu, por volta das 20:30 h, depois de 15h10min de pilotagem. Chegamos exaustos e dormimos como defunto em velório. (Fotos na estrada)

Dia 12 de outubro de 2007 - sexta-feiraPARADOS EM FOZ DO IGUAÇU - Não havia comentado ainda, mas nossa viagem era para ser compartilhada com duas pessoas de Ribeirão Preto (SP), que só conhecíamos pela internet até então. Vou pular essa parte, porque só convivemos com eles por dois dias e não houve nenhuma relação de parceria nesse curto período. Vou falar apenas de nós três: eu, Rosane e Paulo Amaral. Pela manhã, eu e Paulo demos um pulinho a Ciudad del Leste, no Paraguai, para comprar umas muambas. Rosane, minha esposa, chegou por volta das 14h e tudo virou festa. Encaramos, à tarde, uma cerveja gelada na beira da piscina do hotel e fomos dormir cedo. (Fotos no hotel em Foz do Iguacu )
Dia 13 de outubro de 2007, sabadoDe FOZ DO IGUAÇU A POSADAS - 2151 km rodados até aqui, dos quais 311 km em território argentino.
Saimos cedo e fomos tirar o seguro Carta Verde no Posto Gasparin, a 20 km da entrada de Foz. Feito isso, seguimos para a fronteira e perdemos o resto da manhã na fila da declaração de bagagem e da aduana. Como era final de semana grudado com feriado, imaginem o tamanho da fila. Quase meio-dia quando adentramos o território argentino (o hodômetro marcava 1840 km rodados em território brasileiro). Uma revoada de borboletas amarelas nos esperava logo no início da Ruta 12, lembrando-nos que por aqui a primavera funciona mesmo. Não é como no Planalto Central, onde só existe chuva e seca! Abastecemos em Puerto Libertad com gasolina de 97 octanas a 2,49 pesos, ou R$ 1,72 por litro, e seguimos para San Ignacio para conhecer as ruínas das missões jesuitas. Pagamos 9 pesos cada para entrar no sítio histórico. As ruínas são enormes e belíssimas. Muralhas de pedra de até 20 m de altura, circundadas por árvores, nos dão a idéia de uma cidadela isolada no meio da vegetação, utilizada basicamente para a catequização dos povos guaranis. Valeria a pena criar um álbum de fotografias só para este local, por conta da variedade de cenários das missões, edificadas em 1611. Dali seguimos para Posadas, que fica a 40 km de S. Ignácio e a 310 km de Foz. Não havia vagas na grande maioria dos hotéis da cidade. Estavam sendo realizados, simultaneamente, um campeonato de judô e um congresso de medicina neste final de semana e a cidade estava lotada. Iniciamos uma varredura exaustiva de quase 4 horas tentando achar um local para passar a noite. Conseguimos um motel de estrada de quinta categoria. Fomos nos deitar por volta das 22 h. Dormimos mal por causa do barulho do entra-e-sai de carros e dos gemidos animados de um casal no quarto ao lado. (Fotos nas Missões Jesuítas de San Ignácio)


14 de nov. de 2007

Dia 14 de outubro de 2007 - domingo
DE POSADAS A SAENZ PEÑA (ARG) – (449 km rodados no dia) - 2600 km de Brasília, dos quais 760 km em território argentino
Quero começar esta mensagem de hoje com um louvor especial ao povo do interior da Argentina. Eles transbordam simpatia, cordialidade e não perdem uma única chance de cumprimentar, de dar tchauzinho na estrada, piscar farol e de nos perguntar tudo sobre nossa viagem. Hoje acordamos às 5h30 da manhã, sob um frio danado. Algo em torno de 14 graus. Deixamos Posadas por volta das 6h30 e rumamos para Corrientes. As longas retas e o asfalto impecável são inspiração para um festival de bocejos. Logo na entrada de Corrientes a polícia camiñera nos parou e inventou aquela estória que nós estávamos correndo muito etc e tal. Morremos em 60 dólares para poder seguir viagem (pagamento espontâneo de infração). Esse posto policial já está ficando famoso por sua especialização em extorquir motociclistas. Acabara de ler um relato publicado pela revista Moto Adventure do mês passado falando desta cambada. De qualquer forma, depois desse prejuízo, resolvemos parar em Corrientes, à beira do rio Paraná em seu trecho mais caudaloso, para dar uma descansada e tirar umas fotos. Uma ponte maravilhosa (Ponte General Manuel Belgrano) cobre o rio e, do outro lado, a cidade de Resistencia, capital da província do Chaco. Depois de 40 minutos de bobeira, lá fomos nós, retomando a rotina da viagem. O Chaco tem fama de ser um lugar quente pra burro. No relato mais bacana que li (do Rodrigo Moraes, de Campinas), outros viajantes chegaram a experimentar temperaturas de 55 graus no verão. Causou-nos surpresa trafegar pela metade da região sob temperatura entre 15 e 18 graus, um frio razoável para quem está em cima de uma moto. É a primavera! Tudo está fresquinho por aqui!
A temperatura começou a esquentar a partir de Pampa de los Guanacos, superando os 38 graus. Foi nesta cidade que presenciamos uma briga conjugal de extrema violência. Imaginem a cena: havia um hotel de estrada grudado no posto e um ônibus de turismo estacionado ao lado. De repente, surge por detrás do ônibus um jovem casal totalmente embriagado trocando sopapos e gritos. Mal podiam andar, tamanho porre. O homem, bem mais bêbado que a mulher, acabou levando a pior. Ela o jogou no chão, sentou-se por sobre seu peito, pegou-o pelos cabelos e começou a bater insistentemente sua cabeça no asfalto com muita força. Várias pessoas assistiam a briga totalmente inertes, apreciando aquela cena triste. Cheguei a pedir a intervenção de dois senhores que estavam ao lado, que responderam: "Quiero que morra". As pancadas da cabeça do rapaz contra o chão eram violentas. Não tinha dúvidas de que ele morreria se a mulher continuasse. Rosane tomou a iniciativa e segurou a mulher, falando com ela com muita calma e paciência em portunhol, e parece ter sido compreendida. A moça acalmou-se e se afastou do rapaz, que continuou no chão desacordado. Vez por outra ele dava um tremelique e gemia de dor. Acho que eram convulsões. A mulher, com a maquiagem borrada e muitas lágrimas no rosto, mal conseguia ficar de pé, completamente bêbada. Resolvemos sair do local o mais rápido possivel. Subimos nas motos e caimos fora, deixando o casal sob tutela dos olhares de alguns curiosos que permaneceram por lá.
Chegamos a Saenz Peña por volta das 13h20 e fizemos a primeira refeição normal desde que saimos de Brasilia, no dia 10. Comemos uma farta parillada a preço de R$ 14 por pessoa. Comidinha boa e barata! Ficamos hospedados no hotel Astúria, outra espelunca, mas não havia melhores opções por lá. Estava acontecendo uma festa na cidade, em comemoração ao Dia de la Raza. A praça central de S. Peña ficou repleta de transeuntes até altas horas da noite. Muitas crianças brincando e correndo. Música regional tocada em alto-falantes. Um ambiente delicioso! Ficamos sentados em um barzinho estilo parisiense bem em frente à praça, curtindo o movimento e tomando cerveja Quilmes com amendoim torrado. Amanhã vamos tentar chegar a S. Salvador de Jujuy, capital da província de Jujuy, a mais de 800 km daqui. (Fotos em Corrientes, no rio Paraná, e em um barzinho de Saenz Peña)
Dia 15 de outubro de 2007 - segunda-feira
DE SAENZ PEÑNA A SAN SALVADOR DE JUJUY - (830 km rodados no dia) - 3430 km de Brasília e 1590 km dentro da Argentina.
Saimos cedo de S. Peña em direção a S. Salvador de Jujuy. Pegamos dois desvios por estrada de terra, que totalizaram 16 km, por conta de obras na rodovia principal. Por aqui eles recuperam a pista trocando todo o asfalto. Nada de operações tapa-buracos. Desde que entramos no território argentino foi o único trecho em que o pista não estava 100%. Alguns trechos remendados, mas pouquíssimos buracos. Nada que cause preocupação a quem está acostumado com as rodovias brasileiras. Os postos de gasolina começam a rarear por essas bandas. Mesmo com tanques de 22,5 litros em nossas motos, resolvemos não arriscar. Paramos para abastecer em todos os postos pelo caminho, independentemente da quilometragem rodada. Chegamos em Jujuy e nos hospedamos no hotel Augustus, de 3 estrelas. Resolvemos ficar dois dias na cidade para descansar um pouco antes de iniciar a subida da Cordilheira dos Andes. Estamos em uma cidade histórica belíssima, cujo maior patrimönio é a catedral fundada em 1606. A vida noturna, como em toda a Argentina, é bastante agitada. A comida por aqui é maravilhosa e a cerveja (quilmes) é servida bem mais gelada que no Brasil. Nota 10! Aqui existe o hábito salutar de se fazer a sesta e, por conta disso, quase todo o comércio fecha entre 13 e 16 h. Jujuy é a cidade natal do meu ex-professor e orientador de Antropologia da UnB, Martin Novión (já falecido). Vou fazer algumas observaçöes para adiantar:
a) Sobre nossa viagem até aqui - o cenário foi muito repetitivo desde que cruzamos a fronteira. Uma planície extensa de altitude entre 230 e 270 m (medida pelo GPS). Não pegamos chuva pelo caminho e a temperatura tem oscilado bastante, entre 8 e 38 graus.
b) Chaco Argentino – Prevíamos um calor danado neste trecho. Fomos surpreendidos por uma temperatura de 19 graus e sensação térmica de 12 graus no município de Pampa del Inferno (que tem esse nome por causa do calor). Pensé acá com mis botones: “Se no Inferno está fazendo 12 graus, como estará o tempo nas alturas?” À medida que avançávamos para o umbigo do Chaco, a temperatura subiu para 38 graus à sombra (40% de umidade), em Taco Pozo, onde paramos para almoçar.
c) Características do povo chaquenho – A partir de Saenz Peña, o traços da população mudam radicalmente. Predomina o tipo indígena: moreno, cabelo preto e liso e alguns meio atarracados. Apesar de comerem basicamente carne gordurosa e batatas, não se vê pessoas acima do peso por aqui. Impressiona a tranquilidade, a cordialidade e simpatia do povo em todos os locais por onde passamos.

d) Gasolina argentina – experimentamos 3 tipos de gasolina por aqui: a Fangio XXI (97 octanas, considerada a melhor), a Super XXI e a da Petrobrás argentina. Minha moto só teve consumo parecido com o do Brasil com a Super XXI (93 octanas), que custa a bagatela de R$ 1.34/litro (considerando o câmbio de 1 peso/R$ 0,67).

e) Cuidado para não errar o caminho!!! exatamente 30 km após Saenz Peña há um entroncamento. A impressão que dá é que estamos seguindo uma reta imensa, mas existe uma entrada À DIREITA e é POR ALI O CAMINHO correto. Se seguir em linha reta vai dar em Mendoza. Há uma placa enorme logo no encontro das duas pistas com vários nomes de cidades. O último nome. lá embaixo da placa, é P. Inferno (que significa Pampa del Inferno) e é para lá que se deve ir para chegar ao Atacama. 
(Fotos na Calle Belgrano, na estrada e no desvio da rodovia)


Dia 16 de outubro de 2007 - terça-feira
Parados em S. Salvador de Jujuy - Hoje cumprimos a primeira semana de viagem desde Brasília e o quarto dia em território argentino. Ainda pela manhã deixei minha moto na Jujuy Motos para fazer a revisão dos 20 mil km, embora ela esteja com 18.800 rodados. Pensei que seria legal ter um carimbo no documento da moto com o nome desta cidade tão especial (depois descobri que os funcionários desta concessionária roubaram as ferramentas originais de minha moto que ficavam guardadas sob o banco, um prejuízo em torno de 200 dólares). Passeamos a pé e de táxi pelos arredores. Muitas fotos na Plaza Belgrano, onde se localizam os prédios históricos mais bem conservados da cidade, dentre eles a Cadetral de Jujuy. Fomos ao Mercado Municipal, onde se vende imensa variedade de frutas, legumes e verduras. Compramos 3 saquinhos de folhas de coca para mascar nos trechos mais altos. Parece ser a única maneira de se evitar o Mal de Puna (efeitos perversos das grandes altitudes). Uma nativa (indígena) nos ensinou a mascar adequadamente as folhas (hacer el acuyico), para evitar danos à dentição.
À noite, jantamos num restaurante da Calle Belgrano: carne argentina regada com vinho de Mendoza. O grupo musical de Bruno Árias (artista local) fez o som ambiente, com muito charango, zampoña e um vocal afinadíssimo. Entre uma música e outra havia ovação calorosa dos frequentadores, com muitos gritos e assobios. Bastou a Rosane dar um gritinho de "Ru-Rui" ao final de uma música para que todos a acompanhassem . De repente, o restaurante era uma festa, com todos gritando "Ru-Rui" pra lá, 'Ru-Rui" pra cá. Uma animação daquelas. Lembro que a pronúncia espanhola do nome da cidade (Jujuy) é Ru-Rui. Acho que Rosane seria uma excelente animadora de festas... se tivesse chance. (Fotos da Catedral de Jujuy , de 1606, e da Igreja S. Antonio)


13 de nov. de 2007

DIA 17 de outubro de 2007
DE S. S. JUJUY A SUSQUES (200 km rodados no dia) - 3630 km rodados desde Brasília e 1790 km dentro do território argentino – Deixamos Jujuy por volta das 9 h. Já tinhamos saído da cidade quando demos falta da minha máquina fotográfica. Havia ficado no hotel Augustus. Paulo e Rosane ficaram parados na estrada enquanto eu voltei sozinho para buscá-la. Usei o GPS para me orientar (com mapa do projeto argentino Mapear) e em 20 minutos já estava de volta, com o problema resolvido. A partir de Jujuy a viagem, de fato, tornou-se muito especial. Um trecho fantástico de penhascos e montanhas começa a surgir aos nossos olhos. Tenho a impressão de ter entrado em outro planeta. Um cenário extremamente árido, multicolorido que, às vezes, me fez lembrar o seriado “Perdidos no Espaço”.
Passamos pelas cidades de Yala e Reyes, nos arredores de Jujuy, Encontramos alguns motociclistas de Buenos Aires, todos de Harley Davidson, parados na entrada das Lagunas de Yala. Chegamos a iniciar uma tentativa de conhecê-las, mas logo desistimos por conta da estrada de rípio, formada por pedregulhos de tamanho razoável. Não quis encarar esse desafio com a Rosane na garupa e com a moto muito pesada. Saímos da rodovia principal e seguimos para Tilcara, na Quebrada de Humahuaca, onde se localiza o sítio arqueológico El Pucará, uma cidade de pedra com mais de 1000 anos, construída pelo povo omaguaca a 2400 m de altitude. Reencontramos com o mesmo grupo de motociclistas de Buenos Aires por lá. Tivemos que fazer uma visita rápida por causa do horário. O sítio fecha ao meio-dia para a sesta dos funcionários. Tiramos muitas fotos e fizemos filmagens com a própria câmera fotográfica. Almoçamos num restaurante muito charmoso de Tilcara: picante de frango e de carneiro. O calor superava os 40 graus.
Deixamos a cidade logo após o almoço e seguimos para Purmamarca. Paramos na rodovia em frente ao Cerro de las 7 Colores, um espetáculo de cores à parte nesta viagem. Ali, em Pumamarca, começa a Cuesta el Lipán, onde estão localizados os famosos Caracoles: trecho de aproximadamente 65 km com muitas curvas de 180 graus, ladeando despenhadeiros que só imaginava existir no cinema. Por ali não dá mesmo para rodar acima dos 60 km/h nas retas, e 30 km/h nas curvas. Acho que foi o cenário mais impressionante até aqui. Depois das 16 h enfrentamos ventos fortes que nos empurravam para o paredão das montanhas. Devo lembrar que minha moto, com Rosane na garupa, está pesando algo em torno de 380 kg e foi meio complicado encarar esse trecho de curvas e ventos simultaneamente.
Fizemos o trajeto de hoje com muitas paradas, sem qualquer preocupação com horário. Fotos e mais fotos. Os cenários exuberantes nos fizeram utilizar toda a carga das duas câmeras que levávamos. Deu pra registrar muita coisa legal.
Pilotamos muitas horas acima dos 4000 m (chegamos a atingir exatos 4800 m) e isso é indescritivel! A mente navega em estado emotivo, aberta às lembranças de muitas épocas. Um estado de paz e uma vontade de chorar por qualquer motivo toma conta da gente. A partir de Tilcara, iniciamos a mastigação de folhas de coca. A mudança muito rápida de altitude não permite ao organismo uma adaptação adequada. O ar, de fato, some dos pulmöes! Chegamos a Susques sem ver um único posto de gasolina desde S. S. Jujuy, cerca de 170 km de rodagem. Susques é um povoado indígena todo construido em tijolos de argila, a 3.600 m de altitude. Jantamos empanadas e tomamos duas garrafas de vinho argentino na pousada El Alquillar. O frio já era intenso antes mesmo de anoitecer, algo em torno de 4 graus. Dormimos debaixo de 4 cobertas. A temperatura caiu para 2,6 graus negativos na madrugada.
{Fotos em Tilcara (El Pucará), Purmamarca (Cerro 7 Colores), Cuesta de Lipán (Caracoles) e Susques}


12 de nov. de 2007

DIA 18 de outubro de 2007 - quinta-feira
DE SUSQUES A SAN PEDRO DO ATACAMA (280 km rodados no dia) - 3910 km rodados desde Brasília, dos quais 2010 km na Argentina e 160 km no Chile – Saímos depois das 9 h de Susques, esperando o tempo esquentar um pouco. Ainda fazia muito frio pela manhã. Adentramos o Chile por Paso de Jama, onde fica a aduana argentina. Rosane viu uma lhama enorme no meio do nada e a chamou: - Vem cá, lindinha, vem!... Não é que ela veio? Chegou tão perto da máquina fotográfica que o focinho quase encostou na lente. Que bichinho curioso e meigo! Ficamos emocionados com esse contato tão próximo.
No Chile, o tempo estava ainda mais frio. Chegamos aos 4814 m de altitude logo que passamos da divisa com a Argentina. Paramos para tirar a tradicional foto da placa de fronteira e, alguns quilômetros depois, estacionamos num mirante de pedra que permitia ver a vastidão do altiplano. Ficamos admirados com a beleza de um córrego bastante azul, circundado por gramíneas de coloração amarela clara, formado pelo degelo dos Andes.. Vimos montes nevados ao longe. Passamos por um salar muito branco logo em seguida, mas não registramos o nome. A rodovia chilena é excelente e muito bem sinalizada. Nos trechos de descida íngreme, existem caixas de brita nas laterais da pista para caminhões que não conseguem frear. A inclinação da pista não é brincadeira! Se embalar demais não há como parar mesmo!
Chegamos em S. Pedro depois de descer 2400 m abruptamente num intervalo de apenas 40 km. Saimos dos 4700 m e fomos para 2300 m em menos de 20 minutos. Um mergulho belíssimo na paisagem árida do Atacama. A cidade é precária, com preços abusivos (muito mais que o dobro da Argentina), ruas de terra e areia, repleta de turistas de todo canto. Um formigueiro de gente! Só conseguimos quarto com banheiro na sexta tentativa de encontrar um hotel de bom preço (eufemismo). O local, porém, vale o preço! Acho que se trata de cenário único nesse planeta tão diversificado. Vamos lá a outros detalhes:
a) Aduana - ao sair da Argentina, pelo Paso de Jama, tivemos que mostrar os documentos pessoais e das motos por 3 vezes num espaço de 15 metros. Uma burocracia de fazer inveja ao Brasil antes do Hélio Belträo. Adentramos o Chile sob 4 graus de temperatura. Montes nevados ladeiam a pista. Convivemos o tempo todo com um ventinho sem-vergonha balançando as motos. A Aduana Chilena fica em S. Pedro, a 160 km da fronteira argentina. Aqui a coisa foi pior do que por lá. Depois de passar por dois guichês super demorados, tivemos que desmontar toda a bagagem das motos para vistoria da vigilância sanitária. Cheguei a pensar que iríamos passar a primeira noite por lá, tamanha a demora. Para piorar, quando recolocava as tralhas na moto, ao puxar a redinha de elástico para prender a bagagem, joguei a moto no chão. Moto parada é um perigo, cai à toa!
b) Em S. Pedro - fomos almoçar depois das 17 h e encontramos com outros dois brasileiros motociclistas de Curitiba (Rafael, numa XT600, e Reginaldo Rohden, numa Sahara), que estavam iniciando o caminho de volta pela Bolívia. Pessoas super atenciosas e amigas. Enquanto conversávamos, descobrimos que o pneu dianteiro da moto do Paulo estava furado. Fomos a dois borracheiros e ninguém por aqui possui a chave para tirar a roda da moto. Injetamos o reparador de pneus, que funcionou muito bem.
(Fotos da lhama em Paso de Jama, na rodovia chilena e da igreja de S.Pedro do Atacama)


DIA 19 de outubro de 2007 - sexta-feira
Em S. Pedro do Atacama - Hoje fizemos um super passeio de mais de 200 km pelos arredores do Atacama. Contratamos o serviço de uma agência de turismo ao preço de 72 dólares por cabeça (considerado barato por aqui). Estivemos nos povoados de Socaire e Toconao, no Salar do Atacama, nas Lagoas Miscanti e Miñiques e vimos o Vulcäo Láscar (ativo desde 1993). Saímos às 8 h e retornamos por volta das 16 h. A paisagem é uma coisa de louco! Inimaginável! A gente se sente como um grão de areia perdido na imensidão. Convém lembrar que a Bíblia cita passagens diversas de profetas que foram meditar no deserto. Agora entendo o porquê dessa simbologia. É um local único! A ausência de vegetação, a aridez, a falta de chuvas, a temperatura incomum que varia do zero aos 40 graus num mesmo dia são alguns desafios a serem superados por aqueles que aqui vivem. Curiosamente, muitas civilizações se desenvolveram e sobreviveram durante milênios nessas paragens, enfrentando todas essas dificuldades. O povo tacamenho é peculiar nesse aspecto. Não consigo imaginar outra forma de sobreviver por aqui sem os recursos do pastoreio e da caça. Ainda não descobri como as populações locais conseguem água. As lagoas ficam muito longe, localizadas em altitudes acima dos 4000 m e são, geralmente, de água salobra. Chuva no Atacama só se vê raramente e quase nunca ultrapassa os 25 milímetros anuais. Em San Pedro não chove há meio século.
Ontem recebi um aviso de que precisava desocupar o quarto do hotel onde estava por conta da chegada de um grupo de europeus que já tinha reserva. A atendente do hotel pensou que nós iríamos apenas pernoitar quando nos cedeu os quartos. Diante das dificuldades de se encontrar vagas em outros hotéis, eu e Rosane migramos para o quarto do Paulo e estamos os 3 sob o mesmo teto. [Fotos na lagoa Miscanti, no Salar do Atacama e nos povoados de Socaire e Toconao (lhama)]


DIA 2o de outubro - sábado
Em S. Pedro do Atacama 2 - Hoje acordamos às 3 h da matina e às 4 h fomos de van conhecer os Gëiseres El Tátio, a 4300 m de altitude. Foram 2 h de viagem e, quando lá chegamos, fazia 7,5 graus negativos. Foi o pior frio que peguei na minha vida, até então. É bem cedo que se pode ver a pressäo da água vindo de debaixo da terra. Formam-se jatos de vapor de tamanhos variados, que podem superar os 30 m de altura. Por lá também havia uma piscina térmica, onde apenas os turistas europeus tiveram coragem de mergulhar. O choque térmico quando se sai da água näo é fácil de encarar. Vamos lá às novidades:
a) San Pedro é um lugar central do Atacama, mas muito longe de qualquer ponto turístico. É necessário se deslocar por muito tempo por estradas de rípio para ver as belezas do deserto. Por aqui a temperatura é peculiar, porque é muito quente de dia e muito fria de noite. Pelos arredores näo é difícil encontrar locais com 16 graus negativos. A cidade lembra os filmes de faroeste mexicano. Só a praça central tem calçamento e é também o único lugar onde se encontra sombra. Pelos arredores há muitos observatórios estelares, por conta do céu sem nuvens em 300 dias do ano. Existem também alguns vulcöes ativos que lançam fumaça branca constantemente no céu sempre azulado. Os preços por aqui säo exorbitantes! Chegamos a pagar 3,60 dólares numa garrafa de 1,5 litros de água durante o passeio turístico de ontem. Os passeios säo caros, mas se justifica pela grande distäncia nos deslocamentos.
b) Gêiseres - antes de chegar ao El Tátio subimos as montanhas por uma tal de Cuesta El Diablo, uma encosta com curvas fechadíssimas ao lado de abismos (só percebemos o cenário no caminho de volta). O fenömeno dos gëiseres é uma coisa que marca qualquer turista. A água sai da terra sob forte pressäo numa temperatura de 86 graus. Tem que ficar um pouco distante para evitar acidentes. Depois de 2 h pelo local seguimos para o Vado de Putana, uma espécie de vale onde corre um filete de água com muitas gramíneas e algas. Vimos lhamas e alpacas pelo caminho. Visitamos também o povoado de Machuca, onde vivem nativos pastores de lhama. Muitas fotos em todos os lugares.
c) A fauna tacamenha é outro ponto interessante que merece ser observado. Vimos um universo de pássaros incomuns: uma variedade razoável de patos, gaivotas, flamingos e de aves migratórias de todos os tamanhos e cores. No que concerne aos mamíferos, os mais comuns säo a lhama e a alpaca (domesticáveis) e os guanacos e as vicunhas (selvagens). Vimos também uma raposa belissima no meio do deserto (zorro), que parou elegantemente para que tirássemos algumas fotos dela.
d) A flora por aqui é outra coisa interessante. Ela é composta basicamente de variedade enorme de tufos (espécie da capim seco) bem baixos, gramíneas e algas multicores. Qualquer coisa por aqui acima de meio metro é obra de plantio ou de florestamento humano. [Fotos nos Gêiseres do El Tátio e de lhamas no povoado de Machuca]

11 de nov. de 2007

DIAS 21 e 22 DE OUTUBRO DE 2007 - domingo e segunda-feira
DE SAN PEDRO DO ATACAMA A ANTOFAGASTA (Chile) - (480 km rodados no dia) - 4390 km rodados desde Brasília, sendo 2010 km na Argentina e 640 km no Chile e mais de 1000 fotos -
Saimos de S. Pedro por volta das 9 h de domingo, dia 21/10, em direção ao Pacífico. Ainda dentro da cidade, fomos parados por um carabinero (policial chileno). Havia uma placa escrito PARE em uma daquelas ruazinhas de terra e passamos direto. Lá veio o policial, sinalizando com as mãos. Argumentei que não havia vivalma pelas redondezas, mas não foi suficiente. No Chile é obrigatório parar na placa PARE, sempre! Não nos multou, mas isso nos serviu de alerta. Devo lembrar que por aqui o respeito às leis de trânsito é radical. Se formos pegos a 101 km/h numa pista de 100 km/h é multa na certa. Deve ser de valor elevado porque não vimos ninguém descumprir as regras de trânsito por aqui. Depois dessa orientação, seguimos adiante prestando mais atenção nesses detalhes.
Atravessamos a Cordilheira do Sal e margeamos o Vale de la Luna, subindo morro acima. É impressionante a variedade de cenários que nossos olhos estão vendo. Passamos pela belíssima Calama (maior cidade do Atacama, onde vivem trabalhadores das minas de cobre) e pelas ruínas de Pampa Unión, uma cidade toda construída em argila. Coisas que só existem no meio do deserto. Chegamos em Antofagasta por volta das 15 h. Não há como andar depressa por causa dos ventos muito fortes. A moto balança muito e convive-se o tempo todo com aquele medão de se esborrachar no asfalto.
O deserto, de fato, vai até o litoral. Existe uma cadeia de montanhas carecas (de terra, areia e pedra) que funciona como uma cortina entre o deserto mais árido e o oceano Pacífico. Antofagasta fica espremida entre essas montanhas e o mar. A cidade é linda! Muito bem cuidada e limpa. A orla marítima é coisa de cinema: com jardins, parques, calçadöes, restaurantes e hotéis maravilhosos. Almoçamos num local à beira-mar onde vivem pelicanos. Meu Deus, eu nunca tinha visto ao vivo e a cores esses bichos antes! São enormes, com envergadura que chega a 1.60 metro. Foi um choque visual de primeira grandeza depois de tanto tempo sentindo a aridez do deserto.
Como já chegamos ao nosso destino, está na hora de fazer um breve balanço da viagem:
a) Estado das Rodovias - todas as rodovias por onde passamos estão em boas condiçöes. Em alguns trechos da Argentina tivemos que pegar uns desvios por terra por conta de obras de recuperação do asfalto. Por lá eles retiram todo asfalto e fazem outro novinho em folha.
b) Riscos na Viagem - só passei por uma situação de risco, quando atravessávamos os Caracoles (entre Purmamarca e Susques). Um caminhão invadiu a outra pista para fazer a curva no momento em que eu ia descendo uma ladeira super íngreme. Lembro que as rodovias argentinas não possuem acostamento e, nesses trechos mais sinuosos, é comum os caminhöes se utilizarem da pista inteira para fazer as curvas. Como vinha devagar, a menos de 60 km/h, foi possivel frear e passar pelo 1/3 de pista que sobrou para mim, ao lado de um despenhadeiro que só imaginava existir no cinema.
c) Ventos - tem sido nosso maior problema. Nos Andes, os ventos são fracos, mas turbilhonados, principalmente depois das 15 h. Temos a sensação de estar dentro de um túnel de turbulência, que joga a moto de um lado para o outro constantemente. São ventos imprevisíveis, porque nunca sopram numa mesma direção. No deserto, também depois das 15 h, convive-se com ventos fortíssimos, também imprevisíveis. Não dá para eleger o pior dentre os dois. Acho totalmente desaconselhável pilotar depois desse horário. Isso torna a viagem pouco produtiva, porque antes das 9 h da manhã está muito frio e depois das 3 da tarde há muitos ventos. Estamos tentando, na medida do possivel, conduzir nossa viagem nesse intervado de 6 h por dia.
d) Distância em postos de gasolina - é outro fator preocupante. Entre Saenz Peñna e Pampa de los Guanacos (Arg) há 155 km sem nenhum posto. Isso se repete entre S. S. Jujuy e Susques (170 km); e entre S. Pedro e o trevo para Antofagasta, conhecido como Oásis (220 km).
e) Umidade - esqueci de mencionar que, durante todos esses dias no deserto, a umidade relativa do ar manteve-se em 11% o tempo todo. Meus lábios estão em estado de calamidade pública. Trouxe um hidradante labial da Nívea, que não foi muito eficaz para enfrentar a secura daqui.
f) Desempenho das Motos - a XT660 é uma boa moto mesmo! Tenho a impressão que ela possui auto-regulagem para diferentes exigências de mistura. Quando mudamos rapidamente de altitude, ela perde um pouco de desempenho, que logo é corrigido. A minha fez uma média geral até aqui de 18,3 km/litro, com ajuste de injeção em C1=+6. Achei excelente por causa do peso sobre a máquina. A moto do Paulo fez 19,5 km/litro. Excetuando o fato de um pneu dianteiro furado (aparentemente por uma pedra), não tivemos qualquer outro problema. Estamos tentando manter uma velocidade real entre 100/120 km/h, onde as condiçöes são favoráveis. Nos Andes, nossa média foi inferior aos 60 km/h. A gasolina chilena é a melhor de todas. Com a Copec 97 (97 é a octanagem) a minha chegou a fazer 22 km/l. A pior performance foi com a Fangio XXI (argentina), com apenas 15,8 km/l.
g) LA MANO DEL DESIERTO - esse era o destino, o ponto final da nossa viagem: o monumento da Mão do Deserto, obra do artista Mário Irarrázabal em homenagem aos viajantes da Carretera Panamericana, localizado a 75 km de Antofagasta - sentido Santiago -, exatamente no km 1310 da Ruta 5. Chegamos no monumento por volta das 11 h, com quilometragem de 4325 km rodados desde Brasília. Foi emocionante ver nosso projeto de vinda integralmente cumprido sem atropelos e em paz. Chegar lá trouxe uma emoção diferente. Uma vontade de beijar o mundo, de abraçar e de comemorar muito!!!! Estamos nos sentindo bem mais próximos de Deus nesse momento, depois de apreciar tantas maravilhas de sua obra fantástica. Amanhã iniciaremos o trajeto de volta. Vamos trilhar o mesmo caminho da vinda, exceto por um pequeno trecho, onde alteraremos um pouco o percurso em direção a Salta, na Argentina.
PS: encontramos pelo caminho com membros do motoclube Farrapos do Asfalto, de Santa Rosa (RS), e com os Corsários de Antofagasta.
{Fotos na rodovia, no oceano Pacífico (Antofagasta) e no monumento La Mano del Desierto)

10 de nov. de 2007

DIA 23 de outubro de 2007 - terça-feira
DE ANTOFAGASTA (Chile) A SUSQUES (Arg.) - (566 km rodados no dia) - 4956 km rodados desde Brasília, dos quais 1130 km em território chileno e 2146 km em território argentino -
Nossa despedida de Antofagasta foi fantástica! Depois daquele jantar de anteontem à beira-mar sob revoada de pelicanos - quando comemos empanadas de mariscos e filé de peixe, acompanhados de duas garrafas de vinho chileno Gato Blanco -, nada podia ser melhor que nosso último dia antes de iniciar o caminho de volta. Almoçamos Pizza Hut a R$ 9,00 por cabeça (com batatas fritas e coca-cola) num shopping center da cidade. À noite, bebemos chope servido em litro e comemos uma Pichanga (carnes diversas feitas na chapa) a R$ 36,00 (valor total para 3 pessoas), num restaurante local de nome muito sugestivo: Bundes Schop. Esses preços nos fizeram mudar um pouco de idéia sobre o custo de vida do Chile. Estávamos muito mal impressionados com os preços praticados em S. Pedro do Atacama, que são elevados! Nem tudo por aqui é mais caro que no Brasil. Gasolina com 97 octanas, por exemplo, variou entre R$ 2,70 (no Atacama) a R$ 2,59 (em Antofagasta).
Combinamos de sair cedo de Antofagasta em direção à Argentina. Comecei o dia quebrando a chave do alforje onde estavam as roupas da Rosane. O pior: o cotoco da chave ficou dentro do miolo da fechadura. O atendente do hotel ligou para um chaveiro 24 horas para resolver o problema, mas, nem o celular, nem o telefone fixo do cabra atendeu. Fiquei chateado, mas pensei positivo naquele momento: - Há 3 coisas que Deus me deu em abundância: NARIZ, BOCHECHA E SORTE! Não haveria de ser nada! Uma aventura sem contratempos não é aventura! Encontraremos um chaveiro adiante em alguma cidadela da rodovia. Lá fomos nós. Paramos em Baquedana e Sierra Gorda e nada de chaveiro. Vai ver que por aquelas paragens ninguém tranca a porta. Entramos na cidade de Calama, a maior do Atacama, e lá encontramos um profissional capaz de retirar o cotoco e fazer uma chave nova. Acho que perdemos 1 hora e meia para resolver o problema. Em Calama, aconteceu algo inusitado. Chegamos na cidade com a bexiga a ponto de explodir. Paramos no posto de gasolina e procuramos logo pelo banheiro. Tivemos a notícia de que era de uso exclusivo dos funcionários do posto. Tínhamos que pedir autorização ao gerente, pegar chave e outras coisas. Indicaram-nos um mictório público no parque da cidade. Seguimos a pé em direção ao parque. No caminho paramos numa oficina e numa padaria e, pasmem, ninguém tinha um banheiro para nos emprestar só um pouquinho. Quando chegamos em frente à entrada do parque, outra novidade: o portão estava fechado! Para entrar precisaríamos dar a volta completa no parque e isso dava mais de 1 km de caminhada. Vimos um hotel elegante logo a frente e fomos para lá. Ali sim nos deixaram usufruir do banheiro. Já vi muitos viajantes falando mal do povo chileno por causa dessas pequenas coisas. Acho que faltou espírito de solidariedade e de bom atendimento ao turista neste caso.
De qualquer modo, abastecemos no posto que havia nos negado o banheiro e seguimos para San Pedro do Atacama. Passamos novamente pelas aduanas chilena, em San Pedro, e argentina, em Paso de Jama. Paramos para dormir outra vez em Susques. Desta vez na pousada Pastos Chicos, que parecia ser melhor que a outra onde ficamos quando estávamos indo para o Chile (El Unquillar). Mas não era! Tive que trocar de quarto duas vezes porque a descarga do banheiro não funcionava. O frio continuava intenso por lá. Temperatura abaixo de zero de madrugada.
Convém lembrar que em Paso de Jama (fronteira argentina), encontramos com mais dois grupos de motociclistas (um do Rio e outro de Porto Alegre) fazendo a mesma viagem que a gente. Acho que visitar o Atacama já se tornou desejo comum dos motociclistas do Brasil. Muita gente acha loucura empreender um projeto como esse, mas devo lembrar que S. Pedro de Atacama fica apenas a 2060 km de Foz do Iguaçu, bem menos que a distância de Brasília para muitas capitais nordestinas. Nossa cidade, por conta da sua centralidade territorial, fica muito longe da fronteira e qualquer viagem para além dela fica parecendo meio radical. Mas nada disso é verdade! Foi uma viagem tranquila, sem riscos e bem sucedida em todas as etapas até aqui. (Fotos do monumento ao operário do cobre em Calama e da rodovia)

9 de nov. de 2007

DIA 24 de outubro de 2007 - quarta-feira
DE SUSQUES A JOAQUIM V. GONZALES - (558 km rodados no dia) - 5514 km rodados desde Brasília, dos quais 1130 km em território chileno e 2544 km em território argentino - Por causa do frio intenso, não deu para sair cedo de Susques, cidade que nos marcou pela enorme quantidade de cachorros pelas ruas. Aliás, havia esquecido de comentar, em S. Pedro do Atacama o número de cães de rua é também impressionante. O apelido da cidade no Chile é San "Perro" do Atacama (lembro que perro = cachorro). Mas vamos adiante, dando continuidade às informações da viagem. Nosso encaminhamento para este dia era chegar a Salta, a maior cidade de todo o trajeto, e passar uma noite agradável por lá. Logo à frente passaríamos novamente pelos Caracoles em um trajeto de descida, muito mais adequado para produzir boas fotografias e filmagens. Paramos por diversas vezes em busca dos melhores ângulos. Passamos novamente por Purmamarca e S. S. Jujuy.
Várias pessoas pelo caminho nos deram a dica de ir de Jujuy para Salta por uma tal de Ruta 9, através da Sierra de la Cornisa, que possuia paisagem muito mais pitoresca do que a da auto-estrada. Assim o fizemos, felizes por variar um pouco os cenários da nossa volta. Não imaginávamos, contudo, que estávamos nos metendo na maior roubada de nossa aventura. Dos 86 km que separam as duas cidades, cerca da metade se localizava nas montanhas em uma estrada super sinuosa da largura de uma única pista, sem acostamento, com trânsito de ida-e-volta. Para piorar, não tínhamos nenhuma visão dos carros que vinham em sentido contrário. Por diversas vezes nos deparamos com caminhonetes no meio de uma curva e só conseguimos evitar um acidente grave porque estávamos de motocicleta. De automóvel nem pensar! A largura da pista não comportaria a passagem de dois veículos maiores simultaneamente. Não aconselho ninguém a passar por essa estrada. A "vista pitoresca" não compensa o esforço e o risco. Na verdade, essa pista seria estreita para uma ciclovia. Gastamos quase duas horas para atravessar esse trecho de 86 km. O estresse aflorava na pele e nos nervos. Saimos tão exaustos e mal humorados que resolvemos "saltar fora" de nossa programação de passar por Salta e seguir adiante.
Só havia recursos de hospedagem em Joaquim V. Gonzales e para lá seguimos. Chegamos um pouco antes do anoitecer. Cidadezinha linda e organizada, com pistas largas. Muito movimento em todos os cantos, principalmente na praça central da cidade. Ficamos hospedados no hotel Colonial e passamos uma noite muito agradável em um "Comedor", tomando cerveja Quilmes geladíssima e comendo uma parrilla de primeira. Aproveito a chance para quebrar alguns tabus:
a) Los hermanos do interior argentino são excessivamente simpáticos, muito diferente dos portenhos (de Buenos Aires). São humildes, gostam dos brasileiros, admiram os estradeiros e os motociclistas. Demonstraram, em todos os lugares, respeito e encanto por nossa ousadia de trilhar por terras tão distantes.
b) A cerveja QUILMES (curiosamente produzida pela Ambev) é muito melhor que a Skol. Por aqui ela é servida em temperatura muito mais baixa que no Brasil e isso pesou bastante na nossa avaliação.


DIA 25 de outubro de 2007
- quinta-feira
DE JOAQUIM V. GONZALES (Arg.) a POSADAS (Arg.) - (947 km rodados no dia) - 6461 km rodados desde Brasília, dos quais 1130 em território chileno e 3491 km em território argentino - Nesse dia encaramos o trecho mais longo desde que Rosane subiu na garupa da moto. Rodamos 947 km numa única empreitada. Fiquei com pena porque a almofada de gel que ela usava vazou em Corrientes e ela veio sentada no banco duro da moto por cerca de 350 km. Chegamos em Posadas exaustos, depois de atravessar o Chaco argentino sob um calor de 38 graus à sombra. Devo lembrar que o Chaco, como ecossistema, ocupa pelos menos 3 províncias argentinas: Salta, Santiago del Estero e o próprio Chaco (nome da província). Curiosamente, a capital do Chaco (província) não fica nesse ecossistema, porque localiza-se no frescor do trecho mais caudaloso do rio Paraná. Foi um trajeto duro de ser cumprido, por conta das retas infindas e da vegetação baixa, sem atrativos, que ladeava a pista. Foi difícil conter a vontade de acelerar muito. Em Posadas só deu tempo para localizar um hotel (Costa Azul, de preço salgado), comer um sanduiche e cair na cama. Amanhã adentraremos o Brasil por Foz do Iguaçu. (Fotos da igreja e no restaurante em Joaquin V. Gonzales)

DIAS 26 e 27 de outubro de 2007 - sexta-feira e sábado
DE POSADAS (Arg.) a FOZ DO IGUAÇU (Brasil) - (334 km rodados no dia) - 6795 km rodados desde Brasília, dos quais 1130 km em território chileno e 3800 km em território argentino -
De Posadas a Foz são apenas 310 km e fizemos este trajeto com muita calma, por ser o único trecho de toda a viagem onde a presença de caminhões é acentuada. Claro que não podíamos deixar de conhecer as Cataratas do lado argentino. Por lá é possivel ver com muita proximidade a famosa Garganta do Diabo, talvez o cenário mais bonito dentre todas as quedas d'água do Iguaçu. Delicioso sentir aquela bruma refrescante para rebater o calor de sei lá quantos graus (acho que embaixo da roupa de cordura estava mais de 50°).
No dia 27/10/2007, demos um pulinho em Ciudad del Leste (Paraguai) para comprar umas muambinhas para a meninada (incluindo 'nosotros'). Amanhã cedo vamos para Brasília e pretendemos chegar no dia 29, na segunda-feira, com 20 dias exatos de viagem. Voltaremos ainda envolvidos por uma atmosfera de paixão por nossa América. Foi muito emocionante conviver constantemente com os choques térmico e visual dos cenários que nos acolheram durante toda a aventura. Valeu muito a pena ter conduzido este projeto até o fim! Fora alguns contratempos miúdos, toda a viagem seguiu tranquila, em paz e com muita segurança.

8 de nov. de 2007

DIAS 28 e 29 de outubro de 2007 -
DE VOLTA A BRASÍLIA – (1711 km rodados em 2 dias) - 8506 km rodados no total, sendo 1130 km em território chileno e 3800 km em território argentino – Chegamos, enfim! A viagem de volta, como toda viagem de volta, foi um tédio. Uma luta constante contra o acelerador. Rosane voltou de avião de Foz e eu e Paulo viemos da mesma forma que fomos, de moto. Atravessamos os 9 pedágios pagos do Paraná, os trocentos gratuitos de S. Paulo, as belíssimas paisagens mineiras e goianas e adentramos, antes das 13 h do dia 29/10, o DF. Somos unânimes em afirmar que essa foi a melhor viagem de nossas vidas (até aqui). Foi muito prazeroso concluir mais esse projeto com sucesso e segurança!
Espero que possamos ajudar os amigos que, futuramente, desejarem também realizar essa aventura. Vamos lá a algumas dicas e constatações importantes:
a) Tomadas de Energia – não existe plug chapado na Argentina. É bom levar um adaptador, porque só se encontra tomadas com aqueles dois furinhos redondos.
b) Seguro Carta Verde – apenas a Argentina exige este seguro para motos. Só conseguimos localizar a Magna Seguros que o fornece para motocicletas ACIMA de 250 cc. Eles possuem um escritório no Posto Gasparin, no km 720 da BR277 (12 km do centro de Foz do Iguaçu). Soube por um motorista de táxi que do lado argentino, em Puerto Iguazu, há a Rivadavia Seguros, na Av. Misiones. Creio que por lá se consiga tirar o Carta Verde para motos baixo de 250 cc.
c) Cartões de Crédito – as províncias argentinas por onde passamos estão na idade da pedra nesse quesito. Quando se aceita cartão de crédito há acréscimo de 10%. Porém, em qualquer povoado mixuruca é possível encontrar caixa eletrônico para saques (Cajero Eletrónico). No Chile o cartão é aceito na grande maioria dos estabelecimentos.
d) Folhas de Coca – mascar folhas de coca (hacer el acuyico) ou tomar o chá (que tem efeito muito passageiro) é a melhor estratégia para suportar as altitudes acima de 3000 m. Não é brincadeira! O ar some dos pulmões mesmo! Quem tiver algum preconceito, leve um tubo de oxigênio e muita aspirina. Lembro que chamar “folha de coca” de droga é uma ofensa ao povo andino. Ela não produz qualquer efeito alucinógeno, não tem gosto ruim e sua ação é rápida. Depois de uns 10 minutos mascando dá até para bater uma peladinha nas alturas.
e) Temperaturas – Viajamos na primavera e a temperatura foi bastante alta durante a maior parte do trajeto. Frio só de madrugada e de manhã cedo, com algumas exceções. Não pegamos chuva em momento algum da viagem. Sequer chegamos a utilizar o forro térmico das roupas de cordura (próprias para motociclistas).
f) Distância entre postos de gasolina – outro problema para quem viaja com motocicletas de baixa autonomia. Já havia dito e vou repetir. Tomar cuidado especial nesses trechos: entre Saenz Peñna e Pampa de los Guanacos (Arg) há 155 km sem nenhum posto. Isso se repete entre S. S. Jujuy e Susques (170 km); e entre S. Pedro e o trevo para Antofagasta, conhecido como Oásis (220 km).
g) Rodovias – em excelentes condições.
h) Povo Argentino e Chileno – o chileno tem uma postura corretíssima. Respeitam as regras de trânsito, dão nota fiscal para tudo (até para água mineral) e, o melhor, os estrangeiros têm desconto nos hotéis porque são isentos de impostos (que giram em torno de 19%). Os argentinos são muito simpáticos e curiosos. Nas províncias por onde passamos, prevalece a descendência indígena nos traços da população. Não se parecem em nada com os portenhos (de Buenos Aires).
i) Cidades boas para pousar – Posadas, San Ignácio, Corrientes, Resistência, Saenz Peña, Joaquim B. Gonzáles, Susques, San Salvador de Jujuy, Salta e Tilcara (na Argentina); S. Pedro do Atacama, Calama e Antofagasta (no Chile).
j) Serviços de Hotel – é pouco provável que se encontre um banheiro com box na Argentina. Geralmente, só existe um cortinado protegendo o chuveiro do resto do banheiro. Tem que ser artista para não molhar todo o piso. Não vimos, também, funcionários para carregar malas. No Chile o serviço é melhor. Os banheiros são limpíssimos, inclusive dos postos de gasolina (com papel higiênico em todos eles).
k) Roupas - as roupas de frio ocuparam 70% do espaço da nossa bagagem. Eu e Paulo usamos casaco e calça de cordura, próprios para motociclismo. Esse tipo de vestimenta é excelente para frio e chuva, mas terrível para o calor. Sofremos em dobro nos trechos mais quentes. Não houve necessidade de usar o forro térmico da roupa de cordura. Nas temperaturas mais baixas usamos "segunda pele" x-thermo, marca Solo, uma blusa grossa de fleece e cachecóis de alpaca comprados em Jujuy. Rosane usou o tradicional conjunto de couro com esse mesmo suporte por debaixo da roupa e outro casaco impermeável (anorak), bastante flexivel, sobre o casaco de couro. O frio atinge com mais intensidade as mãos. Foi corriqueiro usar 2 ou 3 luvas sobrepostas, geralmente de lã fina ou de fleece por baixo da de couro (com forro de pele de carneiro). Isso nos permitiu enfrentar até 7,5 graus abaixo de zero. Todos nós usamos botas impermeáveis com meia grossa até as canelas.
l) Equipamentos adicionais na moto - Além do já tradicional GPS com mapas dos projetos tracksource e mapear (argentino), usamos um aparelho eletrônico para medir temperatura ambiente e umidade (comprado no Paraguai). Eu instalei um termômetro de mercúrio no alforje lateral, exposto ao vento, para medir a sensação térmica em cima da moto, que variou entre 6 e 10 graus para menos em relação à temperatura ambiente. Lembro q esses aparelhos só funcionam eficientemente na sombra. Sob o sol há alterações significativas, que evitei considerar.
Outras informações com Flávio Faria (explicitar assunto):
Álbuns fotográficos:

Pilotando no Deserto (trecho inicial do Atacama para quem vem da Argentina)http://www.youtube.com/watch?v=XB-dL76ELpM

Quem sou eu

Minha foto
Sou servidor aposentado do Ministério do Planejamento, motociclista há algumas décadas, em Brasília. Também sou antropólogo e sociólogo por formação; escritor, violeiro e compositor por vocação; e estradeiro por opção. Criei esse blog para compartilhar, com quem demonstre interesse, minhas viagens de moto pelo Brasil e por outros países. Contato pelo email: flaviomcas@gmail.com